12 abril 2006

Pat's Club

Para esquecer as dificuldades, foi desesperados que deixámos o complexo num Sábado à noite. Em tal necessidade de ver algo diferente, não há aviso de perigo que nos meta medo. O Patrick até se atreveu a conduzir ele próprio! E afinal, havia que beber uns copos em honra do pobre do Faisal que estava carregado de malária e que fora enviado de volta para o Paquistão por uns dias!

O jipe queixou-se, voltou a gemer, mas à terceira insistência lá acabou por assentar na areia do passeio por calcetar, mesmo em frente do Pat's club, no centro de Lagos. A entrada estava repleta de raparigas jovens de olhares provocantes. Perguntei ao François se eram putas, mas ele explicou-me que "por cá elas só podem entrar acompanhadas de homens", coisa que estranhei, vindo eu das filas nocturas de Lisboa.

Porta da frente transposta, atravessámos o pátio que ainda estava vazio, contornámos a pista de dança quadrangular, e o Paulo insistiu que abancássemos em frente ao televisor que emitia em directo o mais clássico dos jogos espanhois. Só que, partida do destino, por debaixo do televisor, e, logo, mesmo em frente a nós, estava o balcão. O balcão não era problema, mas o mulherão que estava escostado a ele criava um verdadeiro dilema para o Paulo: olhar para o jogo ou para ela. No mesmo momento em que o Ronaldinho fez uma finta apertada, a miúda inclinou o decote para a frente e o Paulo teve de contorcer os olhos para seguir os três esféricos. Temi mesmo que o homem ficasse com a retina desequilibrada por tanto malabarismo de olhar. Ainda bem que nunca fui adepto fervoroso de futebol: para mim a decisão era clara e virei-me para pista de dança que estava repleta de mulheres que tais. Mas nada de ser vulgar mirone, e recolhi-me por detrás duma fila de mesas, essas sim, repletas de verdadeiros e vulgares mirones. Que conste em acta que não observei os vultos na pista de dança para ver as negrinhas a mover na perfeição as curvas sublimes dos seus corpos e para ficar de boca aberta. Nada disso, nunca, "lá agora", eu não sou mirone, eu estava, isso sim, a ... a ... estava a efectuar um estudo sociológico meticuloso por forma a entender melhor a cultura e os hábitos nigerianos, conhecimento que muito me poderia ajudar a lidar melhor com as pessoas no trabalho. Para além de constar em acta, que conste também na minha avaliação no final do projecto: para além de levar o meu esforço para áreas nunca exploradas neste contexto, eu estava a trabalhar até às três da manhã. Num Sábado!

A certa altura alguns tipos das mesas da frente (os mirones, esse tipos) decidiram juntar-se à festa da pista, e foi desta que tive pena que o jogo já tivesse acabado: sempre é melhor ver o Real a sofrer do que sofrermos a ver cinquentões a tentar provar que ainda são jovens, abanando os braços e agitando a barriga desajeitadamente em desespero para acompanhá-las. Sofrimento maior é vê-los a ensaiar seduções a beldades de vinte anos. "E a consegui-lo!".

Hã? Disseste o quê, Paulo? A consegui-lo? Espera, isso é impossivel. Nem na Twilight Zone! O François, experimentado de quatro anos de observação sociológica na Nigéria , explicou: "putas profissionais não o são, mas namoricos com brancos ricos que não têm onde gastar o dinheiro são fartura para carteiras vazias".

A certa altura diminuiram as luzes, e como já só conseguiamos distinguir as peles brancas enrugadas e bochechudas, voltamos para casa.