A revolução e as putas
O alemão velho que está também alojado na fábrica diz que ainda se lembra de estar em Lisboa no dia da revolução. Diz que estava num barco como mecânico, que era Sábado e que tinham decidido sair à baixa para fazer compras. Que não viu tanques, que não viu armas, que não viu disparos. Apenas muita gente nas ruas em protesto.
É alto, feio, tem uma barriga enorme e anda sempre de fato-de-macaco com alças compridas. Faltam-lhe todos os dentes da frente. Bebe cerveja com voracidade, e no outro dia em que o inventário de cerveja na fábrica acabou, ele andou insuportável. Nunca pensei encontrar ninguém que fosse tão bom modelo dos nossos preconceitos nacionais. Não sabia que existiam verdadeiramente.
Ontem trouxe uma puta para dormir com ele na residência da fábrica.
Foi-se embora hoje à tarde. Voltará para o ano que vem. Volta sempre. Desde há 17 anos.
6 Comments:
Não era sábado. Era quinta-feira. E se andou na Baixa sem ver tanques, já devia andar muito bêbado na altura... A chaimite continua a ser um dos símbolos da Revolução, desfila sempre a abrir o cortejo.
isso é que é uma relação estável e duradoura!
ó lena! então, ele saiu à rua para fazer compras. e como viu que as lojas estavam fechadas, pensou logo "é sábado!".
por acaso não julgou tratar-se de uma procissão em romaria e ser domingo...
ele que até havia flores!...
de facto, portugal, só mesmo nós!
VIVA o 25 de abril!!!
Lena, olha que as chaimites, como belas viaturas militares, estavam camufladas. Deve ter sido por isso que o tipo não as viu! E quanto a essa estória de ser à quinta e não ao Sábado, acho muito mal. Com que então os militares queriam fazer a coisa na quinta para tirarem a sexta e irem de fim-de-semana prolongado...
(m)ana, acho mesmo que o homem está a pensar em celebrar as bodas de prata daqui a uns anitos...
Que raio têm a ver as pobres das putas com isto tudo? Também andas nos copos pá!!!
EU, lembra-te que as putas também são povo, e é o povo quem mais ordena.
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