O chefe nigeriano II
Estávamos à porta do escritório dele, à espera que acabasse a reunião que estava a ter para nos receber.
Viu-nos pela janela e pediu que entrássemos, sem mandar sair quem já lá estava. "Levanta-te e deixa sentar os senhores" gritou ele para o jovem em uniforme amarelo, antes de sorrir ridículo para nós com um "estejam à vontade, por favor".
O gestor explicou que o jovem era um novo chefe de turno, contratado havia três meses e por um período experimental de seis meses. A meio desse período, ou seja, naquele dia, ele era avaliado. "Sim, porque nós aqui levamos a gestão dos nossos recursos humanos a sério, e as pessoas são o nosso maior activo", disse, no meio de outras frases feitas e enquanto sorria para nós.
Voltou-se rapidamente para o novo chefe de turno e gritou-lhe o que vinha escrito no relatório: "dizem que não mostras ownership no trabalho". Arremessou que "nesta empresa é preciso trabalhar com ownership, isto não é a brincar", e rematou com outro grito "tens de mostrar mais ownership", que estremeceu o pobre rapaz, que tremia de medo por estar a ser envergonhado em frente a homem branco, e vindo da sede internacional, logo nos primeiros meses de trabalho. "Toma lá um papel e uma esferográfica e escreve o que é que vais fazer para melhorar nos próximos três meses".
Enquanto o rapaz tentava controlar os nervos para poder escrever, o chefe sorriu bajulando para nós, explicando-nos "que aqui não se brinca, eu sei apertar com esta gente, é preciso pô-los a trabalhar, é necessário motivá-los constantemente". O rapaz a meu lado continuava a tremer, e o chefe gritou-lhe novamente "escreve lá isso, que tenho mais que fazer", arrancando-lhe a folha das mãos. "Vamos lá ver o que é que escreveste: vou mostrar mais ownership". Sorrindo para nós dispensou o rapaz com um "Muito bem! Agora vai lá trabalhar".
Depois do novo chefe de turno ter saído ainda rematou orgulhoso "eu sei comandar esta gente".